RICARDO REIS – O POETA DA RAZÃO
Trata-se de um poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com calma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas. Os poemas: “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio” e “Prefiro rosas, meu amor, à pátria” são exemplo de que Ricardo Reis aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos, mas defende sobretudo, a busca de uma felicidade relativa, alcançada pela indiferença à perturbação. A filosofia de Ricardo Reis é a de epicurista triste, pois defende o prazer do momento, o carpe diem, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos. Apesar do prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a “ataraxia” (tranquilidade sem qualquer perturbação). Sente que tem de viver em conformidade com as leis do destino, indiferente à dor e ao desprazer, numa verdadeira ilusão da felicidade, conseguida pelo esforço estóico lúcido e disciplinado.
Ricardo Reis sabe que se encontra à mercê das leis do destino (estoicismo), que são indiferentes à dor ou ao desprazer, ou seja, o Homem tem o seu destino traçado e a ele não pode fugir. Reis, apreciador da cultura grega, sintetiza de forma original, duas filosofias: epicurismo e estoicismo.
Propõe uma filosofia moral que visa o aproveitamento da vida em cada dia, como caminho da felicidade, a busca da mesma com tranquilidade, o não ceder ao impulso dos instintos, a procura da calma (mesmo que seja ilusão). Ricardo Reis considerava o tempo efémero, finito, sendo apologista em relação à ideia de viver em equilíbrio. Em suma, era um poeta de ideias lúcidas e equilibradas.
A filosofia de Reis rege-se pelo ideal “Carpe Diem” – a sabedoria consiste em saber-se aproveitar o presente, porque se sabe que a vida é breve. Há que nos contentarmos com o que o destino nos trouxe. Há que viver com moderação, sem nos apegarmos às coisas, e por isso as paixões devem ser comedidas, para que a hora da morte não seja demasiado dolorosa.
- A concepção dos deuses como um ideal humano
- As referências aos deuses da Antiguidade (neopaganismo) greco-latina são uma forma de referir a primazia do corpo, das formas, da natureza, dos aspectos exteriores, da realidade, sem cuidar da subjectividade ou da interioridade - ensinamentos de Caeiro, o mestre de todos os heterónimos
- A recusa de envolvimento nas coisas do mundo e dos homens
Epicurismo - consiste na filosofia moral de Epicuro, que defendia o prazer como caminho da felicidade. Mas para que a satisfação dos desejos seja estável, sem desprazer ou dor, é necessário um estado de ataraxia, ou seja, de tranquilidade e sem qualquer perturbação. O poeta Horácio seguiu de perto este pensamento da defesa do prazer do momento, ao considerar o carpe diem (aproveita o dia) como necessário à felicidade.
Estoicismo - é uma corrente filosófica que considera ser possível encontrar a felicidade desde que se viva em conformidade com as leis do destino que regem o mundo, permanecendo indiferente aos males e ás paixões, que são perturbações da razão. O ideal é a apatia que se define como ausência de paixão e permite a liberdade, mm sendo escravo.
• Epicurismo
- busca da felicidade relativa
- moderação nos prazeres
- fuga à dor
- ataraxia (tranquilidade capaz de evitar a perturbação)
• Estoicismo
- aceitação das leis do destino (“... a vida/ passa e não fica, nada deixa e nunca regressa.”)
- indiferença face às paixões e à dor
- abdicação de lutar
- autodisciplina
• Horacianismo
- carpe diem: vive o momento
- aurea mediocritas: a felicidade possível no sossego do campo (proximidade de Caeiro)
• Paganismo
- crença nos deuses
- crença na civilização da Grécia
- sente-se um “estrangeiro” fora da sua pátria, a Grécia
• Culto do Belo, como forma de superar a efemeridade dos bens e a miséria da vida
• Intelectualização das emoções
• Medo da morte
• Quase ausência de erotismo, em contraste com o seu mestre Horácio • Neoclassicismo
- poesia construída com base em ideias elevada
- Odes (forma métrica por excelência)
CARACTERÍSTICAS ESTILÍSTICAS
- Submissão da expressão ao conteúdo: a uma ideia perfeita corresponde uma expressão perfeita
- Estrofes regulares de verso decassílabo alternadas ou não com hexassílabo
- Verso branco
- Recurso frequente à assonância, à rima interior e à aliteração
- Predomínio da subordinação - Uso frequente do hipérbato
- Uso frequente do gerúndio e do imperativo
- Uso de latinismos (astro, ínfero, insciente...)
- Metáforas, eufemismos, comparações, imagens
- Estilo construído com muito rigor e muito denso
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