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sexta-feira, 13 de junho de 2014

Fernando Pessoa - Ortónimo

Pessoa foi um dos introdutores do Modernismo em Portugal. Pertencendo a uma época confusa e conturbada pela falta de inovação e criatividade, como foi o fim do século XIX e o princípio do século XX, Pessoa, juntamente com outros homens de letras, como Mário de Sá-Carneiro, fizeram no saudosismo a sua iniciação, mas rapidamente transitaram para o Modernismo com todas as influências das correntes estéticas e filosóficas europeias, chamadas “vanguardas”.
Na ânsia de divulgar as suas novas ideias, Pessoa e os seus companheiros criam a Revista “Orpheu”. É aqui que surgem os primeiros brados do Modernismo português, com a colaboração dos já mencionados. O Orpheu tem pouca duração e é seguido por outra revista “A Presença” que marca o segundo Modernismo, com José Régio, Miguel Torga...
Em Fernando Pessoa coexistem duas vertentes: a tradicional e a modernista. Algumas das suas composições seguem na continuidade do lirismo português, com marcas do saudosismo; outras iniciam o processo de ruptura, que se concretiza nos heterónimos ou nas experiências modernistas que vão desde o simbolismo ao pauísmo e interseccionismo, no Pessoa ortónimo.
A poesia do Ortónimo revela um drama de personalidade que o leva à dispersão, em relação ao real e a si mesmo, ou lhe provoca fragmentações. Daí a capacidade de despersonalização (a de ser múltiplo sem deixar de ser um), que leva o ortónimo a tentar atingir a finalidade da Arte, ou, como afirma, a simplesmente aumentar a autoconsciência humana. O poeta parte da realidade, mas distancia-se, graças à interacção entre a razão e a sensibilidade, para elaborar mentalmente a obra de arte.
Pessoa procura, através da fragmentação do eu, a totalidade que lhe permita conciliar o pensar e o sentir. A fragmentação está evidente, por exemplo, em Meu coração é um pórtico partido, ou nos poemas interseccionistas Hora Absurda ou em Chuva Oblíqua. Aí se verifica uma intersecção de realidades físicas e psíquicas, de realidades interiores e exteriores: uma intersecção dos sonhos e das paisagens reais, do espiritual e do material; uma intersecção de tempos e de espaços, uma intersecção da horizontalidade com a verticalidade. O interseccionismo entre o material e o sonho, a realidade e a idealidade são tentativas para encontrar a unidade entre a experiência sensível e a inteligência. Daí a intelectualização do sentimento para exprimir a arte, que fundamenta o poeta fingidor.
A poesia de Pessoa ortónimo é a despersonalização do poeta fingidor que fala e que se identifica com a própria criação poética, como impõe a modernidade. O poeta recorre à ironia para pôr tudo em causa, inclusive a própria sinceridade que, com o fingimento, possibilita a construção da arte.
Pessoa procura, através da fragmentação do eu, a totalidade que lhe permita conciliar o penar e o sentir. O interseccionismo entre o material e o sonho, a realidade e a idealidade são tentativas para encontrar a unidade entre a experiência sensível e a inteligência. Daí a intelectualização do sentimento para exprimir a arte, que fundamenta o poeta fingidor.
Com a sua capacidade de despersonalização (a de ser múltiplo sem deixar de ser um), o ortónimo tenta atingir a finalidade da Arte que é, como diz, simplesmente aumentar a autoconsciência humana.
Todo o saudosismo e a grande dose de sebastianismo que se encontram na Mensagem estão na linha da poesia tradicional portuguesa. Perpassa em alguns poemas desta obra um tom ao mesmo tempo saudosista, épico e messiânico. Fernando Pessoa concebeu, na Mensagem um Super-Portugal, em que ele próprio seria um super-Poeta. Não lhe falta uma certa dose de megalomania.
Uma das características fundamentais de Pessoa ortónimo é a ausência de sentimentalismo, sendo as suas emoções puras vibrações intelectuais. O saudosismo de Pessoa não é mais do que “vivência de estados imaginários”.
No Pessoa ortónimo, o ritmo alicia, as próprias vivências são por vezes de essência musical; instintiva ou calculadamente, de qualquer modo, apoiado à nossa melhor tradição lírica, Pessoa tira das combinações de sons efeitos muito felizes.
O processo é característico de Pessoa: primeiro a imagem-símbolo, depois a reflexão que lhe extrai sentido. O ritmo e a musicalidade, de harmonia com a nossa tradição lírica, são muito importantes na poesia de Pessoa (ortónimo).


Alguns Tópicos
- Na poesia do ortónimo coexistem a vertente tradicional - na continuidade do lirismo português, com marcas do saudosismo - e a modernista - num processo de ruptura, que se concretiza nos heterónimos ou nas experiências modernistas.
- A poesia, a cujo conjunto Pessoa queria dar o título Cancioneiro, é marcada pelo conflito entre o pensar e o sentir, ou entre a ambição da felicidade pura e a frustração que a consciência-de-si implica (ex: "Ela canta, pobre ceifeira").
- Pessoa procura, através da fragmentação do eu, a totalidade que lhe permita conciliar o pensar e o sentir.
- O interseccionismo entre o material e o sonho, a realidade e a idealidade surge como tentativa para encontrar a unidade entre a experiência sensível e a inteligência.
- O ortónimo tem uma ascendência simbolista evidente desde os tempos de Orpheu e do Pauísmo (ex: Impressões do Crepúsculo).
- A poesia do ortónimo revela a despersonalização do poeta fingidor. O poeta recorre à ironia para pôr tudo em causa, inclusive a própria sinceridade que, com o fingimento, possibilita a construção da arte.

As temáticas:
- o sonho; a intersecção entre o sonho e a realidade (ex: “Chuva Oblíqua”);
- a angústia existencial e a nostalgia (do Eu, de um bem perdido, das imagens da infância...);
- a distância entre o idealizado e o realizado - e a consequente frustração ("Tudo o que faço ou medito");
- a máscara e o fingimento como elaboração mental dos conceitos que exprimem as emoções ou o que quer comunicar (ex: “Autopsicografia”);
- a intelectualização das emoções e dos sentimentos para elaboração da arte;
- o ocultismo e o hermetismo (ex: “Eros e Psique”);
- o sebastianismo (a que chamou o seu nacionalismo místico e a que deu forma no livro Mensagem);
- Tradução dos sentimentos na linguagem do leitor, pois o que se sente é incomunicável;

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