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domingo, 21 de outubro de 2012


O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO (síntese)

 

1 – ALFABETO - São introduzidas as letras k, w e y, que passam a integrar oficialmente o alfabeto da língua portuguesa. Assim, o alfabeto passa a ser constituído por 26 letras, a saber:

 

a A á, b B , c C , d D , e E é, f F efe, g G ou guê,

h H agá, i I i, j J jota, k K capa ou , l L ele, m M eme,

n N ene, o O ó, p P , q Q quê, r R erre, s S esse, t T ,

u U u, v V , w W dáblio, x X xis, y Y ípsilon, z Z

 

As letras k, w e y usam-se:

a) Nos antropónimos de origem estrangeira e nas palavras que deles derivam.

Exemplos:

Darwin – darwinismo

Kant – kantiano

 

b)Nos topónimos de origem estrangeira e nas palavras que deles derivam.

Exemplos:

Kosovo – kosovar

Washington – washingtoniano

 

c) Nas siglas, símbolos e unidades de medida internacionais.

Exemplos:

kg (quilograma), km (quilómetro)

WC (Water Closet), WWW (World Wide Web)

 

d)Nas palavras de origem estrangeira de uso corrente.

Exemplos:

kart, windsurfista, yoga

 

2 - MAIÚSCULAS E MINÚSCULAS - Introduzem-se algumas alterações e estabelecem-se novas sistematizações no uso de maiúsculas e minúsculas.

2.1. Passam a escrever-se com minúscula

a) Os meses do ano: janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho, julho, agosto, setembro, outubro, novembro, dezembro

 

b) As estações do ano: primavera, verão, outono, inverno

 

c) Os pontos cardeais e colaterais: norte, sul, este, oeste, nordeste, noroeste, sudeste, sueste, sudoeste, és-nordeste, és-sudeste, és-sueste, nor-noroeste, nor-nordeste, oés-noroeste, oés-sudoeste, su-sudeste, su-sueste, su-sudoeste

Exemplo:

Agora viramos a sul.

NOTA: Se estas designações se referirem a uma região, ou quando se usam as correspondentes abreviaturas, escrevem-se com inicial maiúscula.
Exemplos:
Ele é um homem do Norte.
Passo sempre as férias no Sul do país.

d) As designações usadas para mencionar alguém cujo nome se desconhece ou se prefere evitar:

fulano, sicrano, beltrano

 

2.2. Estabelece-se o uso facultativo de minúscula ou de maiúscula nos seguintes casos

a) Disciplinas escolares, cursos e domínios de saber.

Exemplos:

matemática ou Matemática

português ou Português

b)Nomes de vias, lugares públicos, templos ou edifícios.

Exemplos:

Igreja do Bonfim ou igreja do Bonfim

Rua da Alegria ou rua da Alegria

Torre de Belém ou torre de Belém

 

c) Formas de tratamento e dignidades.

Exemplos:

Santa Rita ou santa Rita

Senhor Doutor ou senhor doutor

Exmo. Senhor ou exmo. Senhor

 

d)Nomes de livros ou obras, exceto o primeiro elemento e os nomes próprios que se grafam com maiúscula inicial.

Exemplos:

Memorial do Convento ou Memorial do convento

A Última Ceia ou A última ceia

O Crime do Padre Amaro ou O crime do padre Amaro

3 - ACENTOS GRÁFICOS - Suprimem-se alguns acentos gráficos e aponta-se a possibilidade do seu uso facultativo em certos casos.

 

3.1. Passam a escrever-se sem acento gráfico

a) As palavras graves com o ditongo tónico oi.

Exemplos:

asteróide asteroide

bóia boia

espermatozóide espermatozoide

heróico heroico

jibóia jiboia

jóia joia

NOTA: É de salientar que já não se acentuavam palavras com idêntico ditongo tónico oi, como dezoito, comboio, etc.

 

b) As formas verbais graves terminadas em eem.

Exemplos:

crêem creem

dêem deem

descrêem descreem

lêem leem

relêem releem

revêem reveem

vêem veem

 

c) As palavras graves homógrafas de palavras com vogal tónica aberta ou fechada.

Exemplos:

pára (forma do verbo parar) para
para (preposição)
 
 
péla (forma do verbo pelar) pela
péla (nome) pela
pela (contração)
pélo (forma do verbo pelar) pelo
pêlo (nome) pelo
pelo (contração)
 
pêra (nome) pera
pera (preposição arcaica)
 

 

d)Os verbos arguir e redarguir:

argúis, argúi, argúem arguis, argui, arguem

redargúis, redargúi, redargúem redarguis, redargui, redarguem

 

3.2. Estabelece-se o uso facultativo do acento gráfico nos seguintes casos

a) Nas formas verbais terminadas em -ámos (pretérito perfeito do indicativo

dos verbos da primeira conjugação).

Exemplos:

andámos ou andamos

falámos ou falamos

passámos ou passamos

 

b)Na forma do verbo dar (presente do conjuntivo):

dêmos ou demos

 

c) No nome feminino:

fôrma ou forma

 

NOTA: Mantém-se, no entanto, o acento circunflexo em pôde (3.ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo de poder), para distinguir esta forma verbal da correspondente forma do presente do indicativo (pode), e em pôr, para estabelecer a diferença gráfica entre esta forma verbal e a preposição por.

                                                  

4 – SEQUÊNCIAS CONSONÂNTICAS O Acordo Ortográfico prevê a supressão das consoantes mudas ou não articuladas. Nos casos em que há oscilação da pronúncia, aceitam-se as duas grafias.

4.1. Consoantes mudas

São suprimidas as consoantes mudas ou não articuladas em determinadas sequências consonânticas. Mantêm-se as consoantes que se pronunciam, ou seja, todas aquelas que são articuladas. Assim, há vocábulos com as mesmas sequências consonânticas cuja ortografia muda e outros cuja ortografia não muda.

Exemplos:

MUDA:
cc c
accionar acionar
coleccionar colecionar
direccional direcional
fraccionar fracionar
leccionar lecionar
seleccionar selecionar
 
NÃO MUDA:
cc = cc
faccioso, ficcional, friccionar, etc.
Porque a consoante se pronuncia.

 

MUDA:
ç
acção ação
colecção coleção
direcção direção
fracção fração
injecção injeção
selecção seleção
 
NÃO MUDA:
cç = cç
convicção, ficção, sucção, etc.
Porque a consoante se pronuncia.

 

MUDA:
ct t
actual atual
adjectivo adjetivo
colectivo coletivo
directo direto
electricidade eletricidade
objecto objeto
projecto projeto
 
NÃO MUDA:
ct = ct
bactéria, compacto, convicto, facto,
intelectual, néctar, pacto, etc.
Porque a consoante se pronuncia.

 

MUDA:
pc c(1)
anticoncepcional anticoncecional
decepcionar dececionar
excepcional excecional
recepcionista rececionista
 
NÃO MUDA:
pc = pc
capcioso, egípcio, núpcias, opcional,
etc.
Porque a consoante se pronuncia.

 

MUDA:
ç(1)
acepção aceção
adopção adoção
decepção deceção
excepção exceção
intercepção interceção
recepção receção
 
NÃO MUDA:
pç = pç
corrupção, erupção, interrupção,
opção, etc.
Porque a consoante se pronuncia.

 

MUDA:
pt t(1)
adoptar adotar
baptizar batizar
contraceptivo contracetivo
Egipto Egito
óptimo ótimo
susceptível suscetível
 
NÃO MUDA:
pt = pt
adepto, apto, eucalipto, inepto, rapto,
etc.
Porque a consoante se pronuncia.
 

 

 

(1) Quando a mudança ocorre nas sequências mpc, mpç e mpt, o m passa obviamente a n, em obediência a outra consabida regra ortográfica.

Exemplos: assumpção assunção, peremptório perentório.

NOTA: Entre as muitas imprecisões que se têm divulgado, nos últimos tempos, sobre o Acordo Ortográfico, confundindo, por exemplo, o conceito de consoante muda, chegou a constar que se passaria a escrever sem h palavras como habilidade, hálito, harmonia, hematoma, herbário, herança, hoje, homem, hora, hormona, honestidade, humidade, húmido, humor, etc. Tal não acontecerá. Com efeito, o h não é exatamente uma consoante nem uma vogal, uma vez que, em português, não tem nenhum valor fonético, tratando-se apenas de uma letra diacrítica, sustentada pela etimologia. Como se sabe, o h apenas tem valor indicativo de pronúncia nos dígrafos ch (chuva), lh (filho) e nh (manhã). Não vai, pois, desaparecer nenhum h com o Acordo Ortográfico.

 

4.2. Dupla grafia

Estabelece-se a aceitação de dupla grafia dos numerosos vocábulos em que se verifica oscilação de pronúncia, ou seja, nos casos em que a norma culta do português padrão produz, para o mesmo vocábulo, uma pronúncia em que a consoante é articulada e outra pronúncia sem registo dessa consoante.

Exemplos:

cetro ou ceptro

dececionar ou decepcionar

infecioso ou infeccioso

inseticida ou insecticida

setor ou sector

NOTA: Já antes de qualquer Acordo Ortográfico existiam, e existem, muitas palavras em português com a possibilidade de dupla grafia, sem que esse facto perturbasse ninguém, nem fosse tido como indicativo de falta de rigor linguístico. Sempre se disse e se escreveu, e se continuará a dizer e a escrever, por exemplo, loiça ou louça, loiro ou louro, toiro ou touro, cadáver ou cadavre, etc.

 

5 – REGRAS DE USO DO HÍFEN - Reformulam-se e sistematizam-se as regras de uso do hífen.

5.1. Fica estabelecida a supressão do hífen nos seguintes casos

a) Nas formas monossilábicas do presente do indicativo do verbo haver acompanhado da preposição de.

hei-de hei de

hás-de hás de

há-de há de

heis-de heis de

hão-de hão de

NOTA: Repare-se que noutras formas de haver com a preposição de já não se empregava o hífen. Exemplos: havemos de, haverão de, haveríamos de.

 

b)Nos compostos em que se perdeu a noção de composição.

Exemplos:

manda-chuva mandachuva

pára-quedas paraquedas

 

c) Nas palavras formadas com adição de prefixos ou falsos prefixos terminados em vogal e com o segundo elemento começado por r, nos quais se duplica a consoante.

Exemplos:

anti-religioso antirreligioso

anti-rugas antirrugas

contra-regra contrarregra

 

d)Nas palavras formadas com adição de prefixos ou falsos prefixos terminados

em vogal e com o segundo elemento começado por s, nos quais se

duplica a consoante.

Exemplos:

contra-senso contrassenso

mini-saia minissaia

micro-sistema microssistema

e)Nas palavras formadas com adição de prefixos ou falsos prefixos terminados em vogal e com o segundo elemento começado por vogal diferente.

Exemplos:

auto-estrada autoestrada

extra-escolar extraescolar

intra-ósseo intraósseo

 

f)Nas palavras formadas com adição do prefixo co-, mesmo quando o segundo elemento começa por o.

Exemplos:

co-administração coadministração

co-ocorrência coocorrência

co-produtor coprodutor

NOTA: No Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado pela Porto Editora, nas palavras formadas pelo prefixo co- em que o segundo elemento se inicia com a letra h, admite-se dupla grafia, com hífen ou aglutinada, como acontece em co-herdeiro ou coerdeiro, à semelhança do que acontece com as palavras formadas pelos prefixos des- e in os quais se aglutinam com o segundo elemento sem h (coabitar, coabitação, desumano, inumano, etc.).

 

g)Nas locuções de uso geral.

Exemplos:

cor-de-vinho cor de vinho

fim-de-semana fim de semana

NOTA: O texto oficial do Acordo Ortográfico dá indicações de conservação do hífen, que considera consagrado pelo uso, em certas locuções como cor-de-rosa, faz-de-conta, etc. No entanto, por ser mais claro estabelecer que o hífen se conserva apenas nas locuções que designem espécies botânicas ou zoológicas (cf. 5.2. a)), no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Porto Editora optou-se pela sua supressão em todas as locuções de uso geral.

 

5.2. Fica estabelecido o emprego do hífen nos seguintes casos

a) Nos compostos que designam espécies botânicas ou zoológicas.

Exemplos:

andorinha-do-mar, bem-me-quer, couve-flor, feijão-frade

 

b)Nas palavras formadas com adição dos prefixos circum- e pan-, quando o segundo elemento começa por vogal, h, m ou n.

Exemplos:

circum-meridiano, circum-navegação, pan-americano, pan-helénico

 

c) Nas palavras formadas com adição dos prefixos ou falsos prefixos terminados em consoante, quando o elemento seguinte começa por uma consoante igual.

Exemplos:

hiper-realista, super-resistente

NOTA: Se o elemento seguinte começa por uma consoante diferente ou por uma vogal, nunca se usa hífen: hipermercado, superinteressante.

 

d)Nas palavras formadas com adição dos prefixos pós-, pré- e pró-.

Exemplos:

pós-graduação, pré-fabricação, pró-europeu

 

e)Nas palavras formadas com adição dos prefixos ou falsos prefixos terminados em vogal e com o segundo elemento começado pela mesma vogal.

Exemplos:

anti-ibérico, infra-axilar, micro-ondas

 

f)Nas palavras formadas com adição dos prefixos ab-, ad-, ob-, sob-, sub- quando o primeiro elemento termina em consoante igual à que inicia o segundo elemento, ou quando este começa por b ou r, para preservar a pronúncia do r inicial do segundo elemento e para salvaguardar a devida lógica de translineação.

Exemplos:

ab-rogar, ad-renal, sub-região

g)Nas palavras compostas por justaposição, que não contêm formas de ligação e cujos constituintes, por extenso ou reduzidos, mantêm a autonomia fonética e conservam o seu próprio acento.

Exemplos:

ano-luz, azul-escuro, guarda-chuva, segunda-feira

 

h)Nas palavras formadas com adição de prefixos ou falsos prefixos terminados em vogal e com o elemento seguinte começado por h.

Exemplos:

anti-hemorrágico, anti-herói

Acordo Ortográfico, o que muda? Lisboa Editora, 2010 (adaptado e com supressões)

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